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12/01/2012

Visões do Brasil


Baseado na obra Visão do Paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda:
Visões do Brasil
...A travessia que o diabo fez no grande mar em 1500, levando a fé e o pecado simbolizados na cruz.


(diabo) Paranagoaçu raçapa,
Ibitiribo guibebebo,
Aço Tupi moangaipapa
(servo) Bae apiaba paipó?
(diabo) Tupinaquijã que igoara

Atravessando o grande mar,
Voando pela serra,
Vou fazer os tupis pecarem
Que índios são esses?
Os tupiniquins, habitantes daqui
(Na Aldeia de Guaraparim, Anchieta)


Na época da Renascença, os ocidentais têm a surpresa de constatar que o império do diabo é muito mais vasto do que haviam imaginado antes de 1492. Os missionários da elite católica em sua maioria aderem à tese expressa pelo padre Acosta: desde a chegada de Cristo e a expansão da verdadeira religião no Velho Mundo, Satã refugiou-se nas Índias, da qual fez um de seus baluartes. (Delumeau: História do medo no Ocidente)
Brasil, o Paraíso
"E o grande mal da Europa, economicamente, foi sempre o mesmo, incurável: auri sacra fames, fome, sede de ouro
(Lucien Febvre, A Europa).
Brasil, O "outro Peru"
Fazer do Brasil um “outro Peru” foi o sonho de Tomé de Sousa, presente em todos os atos de sua administração.
Essa ideia obsessiva há de levá-lo, em dado momento, ao ponto de querer introduzir duzentas lhamas andinas no Brasil. E recomenda-se no mesmo documento que das ditas lhamas se fizesse casta e nunca faltassem. Já seria essa, à falta de outras, uma das maneiras de ver transfiguradas as montanhas de Paranapiacaba numa réplica oriental dos Andes.
O que saíam a buscar em nossos sertões tantas expedições custosamente organizadas não era tanto o ouro como a prata. E nem eram diamantes. O que no Brasil se queria encontrar era o Peru, não era o Brasil. (Sergio Burque de Holanda, Visão do Paraíso)
Brasil, a "outra Paris"
Pardais, símbolos da cidade de Paris, foram importados e soltos nas novas avenidas. Ainda hoje há quem diga que tais aves, corriqueiras do ambiente urbano, são “brasileirinhas da silva”.
Brasil, a "outra Atenas"
Mas o mito também teve outras faces… Sentindo-se como “desterrados em sua própria terra” que já quase nascem com vontade de voltar, a urgência de ser outra coisa acompanhou o povo brasileiro por muito tempo, se fazendo presente também naquela necessidade maranhense de ser a “outra Atenas”, constituída de uma pequena, mas abastada intelectualidade, que foi estudar no exterior, e na volta quis fazer-se valer pelas letras diante de uma população de analfabetos. Suas obras não se tornaram corriqueiras como os pardais. Mas ainda estão lá, tão brilhosas quanto pouco lidas. 
Brasil, o "pais do futuro"
Entretanto, aquela vontade de ser outro, companheira de longa duração no imaginário brasileiro, começa a se dissipar. A necessidade de fazer do Brasil um “paraíso perdido”, um “outro Peru”, uma “outra Paris” ou uma “outra Atenas” vai ficando para trás em um passado cada vez mais distante e inofensivo, tornando-se apenas objeto de estudo do Historiador. Perdeu espaço diante dos avanços econômicos e sociais ocorridos nos últimos anos. O Brasil começa a se fazer presente como peça atuante no jogo geopolítico internacional e desponta, cada vez mais, como potência econômica de dimensão continental. 


Assim, a necessidade de reconhecer-se enquanto outro vai dando lugar a vontade de ser o “Brasil o país do futuro”.


Ao Historiador, “desde que se interesse nas coisas do seu tempo”, cabe dar um passo a frente. Sair do passado. Colocar-se no seu tempo. E indagar se esse “país do futuro” não é apenas a mesma permanência, velha de vários séculos, que insiste em querer fazer do Brasil outra coisa além de si próprio.  

YSEMSOMA



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